segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Mulher Feia



MULHER FEIA

            Sua falta de sorte foi contada em verso e prosa. Enquanto corria com seu cavalo atrás de um bezerro fugido, bateu com a testa em um galho baixo de uma árvore, caiu com as costas em um toco e ficou se retorcendo, sendo que o galho quebrou e caiu no seu rosto. Outro detalhe foi que o galho levou consigo uma enorme colmeia lotada de raivosas habitantes. Isto o fez levantar e correr mesmo mancando. As abelhas não tinham dó. Algumas voaram calça adentro e não perdoaram nenhuma das partes baixas. Com o olho que ainda abria, conseguiu avistar seu cavalo e por sorte pegou em suas rédeas e as prendeu em sua mão menos inchada, mas o animal ao sentir as abelhas partiu em disparada levando nosso desafortunado junto. Foram centenas de metros de arrasto que teve como cume uma linda passagem por um mar de urtigas. Pelo menos as abelhas ficaram pra trás. Também, não encontraram mais lugar algum para picar... Bem, quando a rédea arrebentou o cavalo continuou em disparada deixando nosso herói caído com a boca em um formigueiro de saúvas africanas. Quase perde a consciência, porém, por sorte, não perdeu. Ergueu-se como macho que era e danou-se a correr cuspindo as formigas que saíam até pelo nariz, que já estava parecendo uma ata de tão desfigurado. Correu alguns metros e pisou, sem querer, diga-se de passagem, em uma cobra cipó que lhe cravou as presas no dedão do pé esquerdo. Tentou gritar de dor quando saiu de sua boca uma formiga abraçada a uma abelha, algo lindo e poético, digno de nossa Mãe Natureza. Belo espetáculo Divino. Pisou com o outro pé na cobra para ela largar-lhe o pé. Saiu com muito esforço e lágrimas. Mas ele era macho e macho não chora! Respirou fundo, não tão fundo, pois as narinas estavam quase totalmente tapadas por causa das urtigas e viu, mesmo que em vulto, que estava próximo à estradinha. Lá chegando, foi atropelado pela camionete modelo 1966 do prefeito da cidade. O motorista e seu companheiro acharam que aquilo era um bicho ou coisa do demo que andava se contorcendo e grunhindo e só pararam uns trinta metros depois. Ficaram alguns minutos em uma discussão pra saber que coisa era aquela, se era curupira sem porco, um macaco manquitola e velhão, até levantaram a possibilidade de ser um saci bem-dotado, pois o bicho tinha duas pernas. Desceram da camionete e foram andando calmamente com a espingarda na mão e, ao chegarem, a coisa começou a se debater e resmungar. "Valha!", disse um deles e bala comeu. Por sorte, só uma atingiu nosso homem, atingiu bem certinho na canela esquerda, o que fez dar pulos e rodopios, mas foram só movimentos involuntários mesmo, espasmos. Olhando mais atentamente, os dois companheiros perceberam tratar-se de uma figura conhecida da cidade e correram para socorrê-lo. Quando tentaram erguê-lo sujaram-se os dois de excrementos. Foi triste, mas nosso homem estava todo cagado, ninguém sabe o porquê. Certo, o puseram junto com os porcos na parte de trás da caminhonetinha. Um ponto também digno de registro é o que faz menção ao fato de que um porco barrão no cio foi durante toda a viagem até a cidade tentando copular com nosso amigo e chorou bastante quando tiveram que tirá-lo do transporte. Chegando ao pronto socorro da cidade, descobriram que o médico não estava lá. Deixaram o paciente numa maca e foram atrás do doutor que estava numa festa no centro da cidade. Conseguiram trazer o homem com muito esforço. O doutor, cheio do “pau”, vesguinho, vendo aquela figura deitada foi logo falando: "Não sou veterinário, podem levar esse porco catitu daqui!" Aí tiveram que explicar tudinho para o doutor se acalmar e o cabra foi logo dizendo que teria que cortar uma perna fora. Bom, se era para o bem, que cortasse logo. O porém, senhores, foi que a perna cortada foi justamente a que não precisava e com o agravante de que a anestesia não pegou direito. É, que dia para aquele grande homem! Contudo, a causa de sua morte foi um susto que ele tomou quando se viu no espelho depois da operação que cortou sua outra perna. O susto foi por demais grande, pois seu rosto estava idêntico ao da sua esposa que, como percebem, não gozava de beleza celestial. Suas últimas palavras: "Vá de retro, satanás!!!"  Rico pobre homem.           


Marcone Mendes.