sábado, 28 de agosto de 2010

Inserção...


Confúcio disse certa vez que sonhou que era uma borboleta e quando acordou ficou com uma dúvida ferrenha: Será que foi realmente um sonho ou será que ele não era realmente uma borboleta sonhando ser homem?

Não há dúvidas que o que nos move é o pensamento, a mente. Porém, entender como funcionam as maquinações da mente (Patrick Estrela é o “cara”) ainda é algo obscuro, envolto em cortinas ainda não rasgadas, pois a cada dia somos surpreendidos com novas descobertas que, em grande parte das vezes, tornam teorias anteriores obsoletas, o que é frustrante.

O pensamento como força motriz (talvez o motor imóvel aristotélico) pode ser tido como ligações das sinapses simplesmente, mas sabemos que não é somente isso, sabemos que existem “coisas ocultas” no pensar, tanto no pensar consciente como no pensar subconsciente.

O pensar consciente é de mais “fácil” expressão, pois está lá, está aqui, é manifesto. O subconsciente é altamente “misterioso”, quando vem à tona não se deixa mostrar totalmente e volta para seu calabouço cerebral rapidamente.

Temos contato com este subconsciente quando sonhamos. Os sonhos são maravilhas, são fugas, são arquétipos mentais que ultrapassam barreiras das leis físicas e até espirituais que conhecemos. Adentrar neste campo é temeroso (vide Freud) e complicado, pois de difícil explicação. Cientistas estão sempre em seus estudos “cavando” nesse terreno instável e artistas elucubram em suas obras sobre o tema causando, à vezes, mais complicação. Atendo-se ao campo artístico, fomos brindados com um lindo, intrigante e precioso presente chamado Inception (filme que no Brasil é conhecido como A Origem).

Inception é um filme de Cristopher Nolan (aquele que “ressuscitou” Batman) e nos mostra que sua mente é a mais promissora do cinema atual. Inception trata de sonhos e, como foi dito anteriormente, este é um tema movediço, principalmente no cinema, pois corre-se o risco de ficar o tema muito solto ou perdido mesmo. Mas não foi isso o que aconteceu. Nolan mostra-nos que a experiência de ir ao cinema ainda é viável e gratificante (Cameron já tinha feito isso em Avatar, principalmente no que diz respeito ao visual). Ir ao cinema assistir ao Inception em suas mais de duas horas de projeção (projeção tem sentido duplo aqui rsrs) é, como dizem os americanos, mindblowing. O filme brinca com nossa mente de maneira que ficamos presos àquele universo Nolaniano a cada frame.

Sim, mas de que fala o filme mesmo?

Sonhos, Inception trata de sonhos. A trama a la Onze Homens e Um Segredo serve de pano de fundo para exploração do cerne da questão: É possível sonhar “conscientemente” e manipular os acontecimentos enquanto sonhamos? O filme vai mais além ainda: É possível entrar nos sonhos de outras pessoas e ainda manipulá-los? Parece complicado e é mesmo!

O protagonista (Leonardo di Caprio fica melhor a cada filme, descarte Titanic, já que um cone faria o papel de Jack) é um “ladrão de idéias” que entra nos sonhos de suas vítimas para roubar informações bem sigilosas, aquelas que guardamos bem lá no fundo de nossa mente e recebe a incumbência de fazer o contrário, ou seja, “implantar” (daí o nome Inception) uma idéia na cabeça de uma pessoa/vítima (Cillian Murphy em um papel menor. Admito que tenho medo desse cara desde Batman Begins). Só por aí já vimos a “loucura” da cabeça do Nolan. O filme é daqueles que não pode-se piscar para não perder nada, dada a complexidade dos diálogos e cenas. O visual magnífico quando dos sonhos extrapola em seu grau de realismo bem como a sonoridade (existem cenas em que não se ouve “melodias”). O restante do elenco está perfeitamente encaixado (alguém tem dúvidas que Joseph Gordon-Levitt seria um ótimo Charada? Aproveita Nolan....rsrs), os diálogos em sincronia com a trama e o roteiro, se não é impecável, não deixa tantas pontas soltas. Voltando ao protagonista, Nolan construiu um cara atormentado por seu passado recente (Ilha do Medo de novo, Leonardo?) e que tende a estragar seus próprios planos (leia-se sonhos) por causa desse passado o que torna o desenvolvimento dos acontecimentos mais intrigante para descambar em um final mais intrigante ainda. O que o diretor da obra quer nos mostrar é que nossa percepção da realidade depende quase que exclusivamente do que nosso cérebro “vê”, não importa se em sonhos ou não. Admitir isso já é um grande passo, pois lembra Descartes em seus escritos com roupa de dormir em frente à sua lareira. A realidade como representação de uma ilusão de nossos sentidos exteriorizados é relativa ao extremo, não há como separar o sonho da realidade enquanto sonhamos, somente depois de acordar saberemos a verdade. Será? Gire o peão para saber.

Pois bem, em época de filmes mais descartáveis (com exceção de Avatar e algo de produções fora do circuito comercial), Inception consegue trazer de volta o cinema que faz pensar, que lhe faz sair da exibição um pouco atordoado (se Matrix fez ficar aquela pulga atrás da orelha, Inception lhe faz ficar com um cachorro inteiro). O que nos resta dizer é que Cristopher Nolan é o arquiteto de um filme maravilhoso, um filme dos nossos sonhos.

domingo, 1 de agosto de 2010

Sonho...


No mais perfeito calabouço do pensar, temos que as palavras realmente são inócuas. O passado passa. O passado passa a fazer mais sentido! Ao fechar os olhos certo dia, tive a sensação estranha de não estar mais aqui e sim lá. O que passou é perfeito, o que passará, também será. Preso neste corpo mortal, não tenho a capacidade de externar (ou algo do tipo) os vínculos não sensoriais de uma existência efêmera e sem escrúpulos convencionados e não verdadeiros. A sensação de não estar aqui perfaz uma viagem que inicia-se em Galápagos e termina no Gólgota . Em comunhão (não a católica, Deus me livre!) com o que a Criação presenteia-nos, podemos realmente observar, viver e morrer o panta rei universal e cosmológico em estrita relação com as brevidades do existir pantomímico em conciliação com as concepções mais acertadas acerca das vidas e mortes de tudo o que existe em consonância naturalmente delineada e prevista em outro plano. O “mundo das idéias” de Platão ainda está distante, nós ainda somente somos cópias mal acabadas de um modelo ainda inatingível, o “adão” primordial e emblemático. Falando rasteiramente, Eric Cartman (o grande pensador da contemporaneidade) é exemplo da praticidade na qual deve ser levada a vida: não pense muito, aja, execute de modo que saia sempre ganhando, não importa como.

Recuso-me a viver nos moldes, recuso-me a viver no outro. Não quero ser uma projeção e sim uma diária existência de atos e fatos falhos, pois a falha não existe. No girar dos acontecimentos a visão vai ficando mais acurada e destra. Os atropelos fáticos não passam de estrelas cadentes e cadenciadas e acordar para ultrapassá-los é opção. Tenho um sonho ainda não sonhado, portanto não real, não real, mas palpável.